sexta-feira, 8 de junho de 2012

Cidade Selva: Sistemático

Estava eu a pensar com meus botões...
Mas, lembrei-me de que eu não era uma máquina.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Contos de (sa)fadas

Chapeuzinho Vermelho praticava zoofilia com lobos.
Cinderela casou-se com um príncipe podólatra.
Um príncipe somnófilo molestou a Bela Adormecida.
Branca de Neve foi comida por um necrófilo.
João de Almeida foi preso por pedofilia.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Paisagens urbanas

As cidades do século XX eram muito mais cinzentas:
Hoje temos os urbanistas
- Que jogam a sujeira para baixo do tapete.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Cantiga de amor

Senhora minha, desde que vos vi
lutei para ocultar essa paixão
que me tomou inteiro o coração;
mas não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi
Senhora minha, vem cá
e me dá o cu.


                                                                   (1997)


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Heterônimo

O eu que nunca fui...


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Poesia Sobre-Viver

Pra que, pai?
Pra que trabalhar, pra que comprar?
Pra que ficar horas e horas na frente duma máquina dando dinheiro pro patrão?
- Enquanto sua família morre de fome
Pra que estudar? Pra conseguir um bom emprego e encher o cu de [dinheiro enquanto o cara do meu lado passa fome e frio?
Pra que, pai?
Pra que usar terno e gravata? Pra que seguir os bons costumes?
Pra que ir à missa todos os domingos, enquanto o padre come [criancinhas?
Enquanto o pastor rouba seus devotos!
Deixe-me beber, pai!
Deixe-me ser um vagabundo!
Deixe-me transar com todas as mulheres e morrer de sífilis
Não quero sobreviver, pai
Deixe-me morrer sozinho
Deixe-me viver

Marco N. - 2010

Cidade Selva: Exaustão

Meus olhos estão suados.
Cansaram-se dessa vida...


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Correria Morta.

A energia mantém a lâmpada da fábrica acesa.
A lâmpada ilumina minha cabeça.
Minha cabeça pensa a todo vapor.
Minhas mãos trabalham rapidamente
Ligando e desligando máquinas.
As máquinas correm em ritmo febril.
Tudo está correndo, tudo faz barulho, tudo está aceso.
Minha alma está apagada.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Escapatória

As buzinas soam em meus ouvidos
Gritam em um coral dos infernos
- O silêncio da morte é muito tentador.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Noite Passada

Coxas grossas roçando.
Suspiros profundos.
Doía um pouco, é bem verdade,
Mas o prazer era maior.
Cheiro de suor, impregnando o quarto.
Gritos.
Mais um pouco,
Mais um pouco,
Estamos quase lá.
Mãos agarradas, pernas entrelaçadas.
Lábios de seda, cabelos de céu.
A cama gritava e corria.
Loucura. Amor. Você.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Auto-retrato

Os gritos ecoam pelos becos sombrios e sujos.
A podridão sobe pelos bueiros.
Os altos prédios de terno e gravata.
Elevadores num vai-e-vem.
Luzes acende-apaga.
Gemidos de dor e prazer.
Roupas de látex.
Corda no pescoço, cadeira tombada.
Grito de medo.
Manchete dos jornais.
"Policial-bandido assalta velinha".
Cadeiras confortáveis de pano vermelho.
Tapete persa.
Colar de pérolas.
Luxo.
Sexo selvagem.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Cidade Lobo

Durante a noite
A cidade uiva.
Mas, nem sempre,
A lua é cheia


Marco N. - 2010

Devorei Mario Quintana
E toda a doçura de suas tão amargas palavras.


Marco N. - 2010

Cidade Selva: Chá das 5:00


Ela me olhava com seus olhinhos de porcelana.
A água fervente corria em nossas veias
Passava por nossos sachezinhos de sangue
E fazia um delicioso chá de amor.

Marco N. - 2010

Cidade Selva: Sinfonia Urbana

Vozes desesperadas cidade gritam
Biiii Bôôm Fóóó Biiii
Bruuuuumm!!!
Armações metálicas velocidade desordem e progresso
Trânsito Broom Bruumm marcham furiosamente
Parede de Crash! Fóóó corre corre em coro
Sirenes vermelho sinais
Pararam.
Bang! sangue bueiro corre a dentro buracos concreto carros
Frio medo, sangue a correr pelo Bi Fóm Fóm
Silêncio.
Frio.
Cheiro de Concreto.
Bruuuuuumm!!!



Marco N. - 2010

Cidade Selva: Autodestruição



As construções cinzentas sobem aos céus
Como braços de Deuses do Olímpo
Em sua magnífica grandiosidade
Esmagam-nos as cabeças
Enterram-nos em covas de concreto
Esquecidos sob armações de ferro
Tão pequenos...
Obedecendo às vontades dos Deuses do Olímpo
Sucumbimos,
Caímos com o peso
Das criações
Do Deus-Homem


Marco N. - 2010